César vinha descendo a montanha, devagar.
Era realmente bem lento o seu passo. Estava cansado da jornada. Muitas coisas haviam
acontecido nos últimos dias, desde a manhã do sábado anterior, quando a chuva lhe
acordou ao cair tempestuosamente pela janela de seu quarto. Tinha acordado no
susto, parecia que tinha pressentido o que viria. Mas como poderia? Nada do que
ele havia vivido até então, haveria de se comparar com qualquer segundo que ele
passara naqueles últimos dias.
Na madrugada de sexta, enquanto todos
deveriam estar descansando, César sentiu a vibração. Ele acordou e simplesmente
a sentiu. Cada pêlo de seu corpo se levantou, parecia que havia estática no ar.
E ele ouviu dentro da sua cabeça: “César!”. Tentou procurar pela voz, primeiro
na cozinha. No escuro, aquela cozinha achatada parecia menor do que realmente
era, não se enxergava a coloração azul das paredes, só as sombras dos poucos
móveis. O fogão a lenha ainda com
algumas fagulhas, que tentavam se apagar, mas não conseguiam, a noite estava
quente demais. Ele continuou pela sala, “César!” a voz dizia. Aquela voz ele
nunca havia escutado, ela era doce como veludo, parecia com o som que as flores
fariam se pudessem falar, porque aquela voz parecia, para ele, ter até aroma, e
era bom, muito bom. A sala vazia parecia estar ecoando aquela voz, mas não estava,
porque a voz, apesar de César não perceber, realmente vinha da sua cabeça, não
adiantaria tentar procurá-la. Mas ele continuou, e nada achou. A estática
continuava no ar, e o cheiro doce também. Ali mesmo ele adormeceu, no meio do
nada, no meio da sua procura, e como acordou na manhã de sábado, deitado em sua
cama, ele não sabia. O que aconteceu depois foi uma sucessão de fatalidades.
Mas isso, vou lhe contando aos poucos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário