quinta-feira, 2 de maio de 2013

parte 2


2. O CAVALO

         César caminhou pelas ruelas da pequena vila. Tudo parecia tão vazio, sem vida. As janelas das casas ainda fechadas. Não sentia o cheiro dos pães que normalmente assavam pela manhã, só o cheiro da grama molhada. À passos lentos, César observava tudo ao seu redor, ele crescera naquela vila, conhecia cada pessoa de cada canto que ali habitava. Vivera toda a infância ao lado de seu grande amigo Gustavo. E onde estaria ele agora? Ele que todos os dias vinha lhe cumprimentar na janela e o convidava para entrar. Onde estaria seu melhor amigo? César não sabia, mas instintivamente temia por ele. Andou pela estreita trilha de terra que levava para a saída do vilarejo e encontrou o muro que limitava a cidadezinha, as pedras brancas empilhadas umas sobre as outras não chegavam a bater na sua cintura.
         Enquanto vislumbrava a floresta que se formava na sua frente com toda a sua magnitude, César percebeu algo mágico na natureza: um grande cavalo de pêlos amarelados estava parado ali, olhando para ele, como se estivesse esperando por ele há décadas. O olhar lhe parecia tão familiar, como se o conhecesse, mas nunca havia visto este animal tão maravilhoso na vila. E o que faria aquele belo cavalo ali? Alguém teria o perdido e ele cavalgou sozinho até encontrar a vila? Estaria ele com fome? Sede? César sabia que possuía alguma comida que sua mãe havia lhe preparado para a “jornada” e resolveu oferecê-la ao cavalo. Quando fez isso, o cavalo deu um passo para trás e o olhou diretamente nos olhos, e foi então que algo mágico aconteceu, César pôde escutá-lo, dentro de sua cabeça, assim como havia acontecido com a voz aveludada na madrugada, e o que ele ouviu foi: “Eu não estou aqui para atrapalhá-lo César, nem comer seu suprimento, eu estou aqui para ajudá-lo”.
         - Eu só posso mesmo estar ficando louco – disse César instintivamente.
         “Você não está louco César, você só precisa de tempo para se acostumar com tudo o que virá daqui para frente. E eu, como seu amigo, vou lhe ajudar e lhe conduzir por essa floresta. Você não estará sozinho jamais César, todos que te amam estarão com você.”
         Os pensamentos de César agora se confundiam com os do cavalo, ele realmente estava falando com César, dentro de sua cabeça. E César entendeu quando ele pediu que o montasse e o deixasse levá-lo para dentro da floresta escura.
         - Eu nem mesmo sei para onde estou indo meu caro amigo.
         “Nós iremos descobrir isto juntos César, nós só precisamos continuar seguindo em frente. Vamos amigo, suba e vamos correr um pouco.”
         O cavalo era realmente muito rápido, eles levaram apenas alguns segundos para adentrar na mata. Aquela floresta também tinha feito parte da infância de César. Mas não a floresta inteira, ele só conhecia alguns metros adentro, sua mãe nunca havia o deixado explorá-la a fundo com medo de que se perdesse. Depois de jovem, ele só costumava usar as estradas para ir de uma vila a outra. E a floresta agora, parecia mais bonita do que ele se lembrava. Era primavera ainda e as flores caiam por todos os lados, todas as cores e todos os aromas se misturavam. As abelhas voavam de uma flor a outra, trabalhando para o inverno. Os animais estavam soltos, aproveitando aquele calor que daqui mais alguns meses daria lugar à chuva. Tudo parecia tão vivo, como César nunca havia visto antes, todas as pequenas e grandes coisas desse mundo agora tinham suas cores mais vivas. César ainda não entendia o que fazia ali, mas sabia que era ali que ele deveria estar, naquele caminho, com aquele cavalo. E os dois continuaram enquanto a mata se fechava cada vez mais atrás deles. Às vezes o cavalo olhava para César, com o canto dos olhos, diminuía o passo, tinha medo que estivesse rápido demais para César, e este sabia disso, sentia isso, e tratava de alisar sua cabeça como se disesse: pode prosseguir amigo.

.... continua....

Nenhum comentário:

Postar um comentário